Pior do que a “imprensa especializada” e fãs dizerem por aí que não há desenhistas de mangá no Brasil, é eles existirem e serem desconhecidos ou completamente ignorados. Ao contrário do que afirma esta tola crença, nós temos, sim, desenhistas de mangá brasileiros muito bons. Mas poucos sabem algo deles por em sua maioria, trabalharem para outros países incluindo o próprio Japão, onde são reconhecidos e respeitados. É aquele velho provérbio nacional bem conhecido e ainda muito verdadeiro: “santo de casa só faz milagre fora”. Mas no caso de nossos mangákas (como chamam os desenhistas de mangá), o “milagre” é desenhado para outros países porque faltam oportunidades de trabalho no Brasil. As editoras e o público brasileiro os desconhecem – seja por uma ignorância sincera ou preguiça de se informar mesmo ou – no caso das editoras – por acha-los “muito caros”.
Mas não se trata apenas de desconhecimento. Algo muito estranho e perverso acontece com estes desenhistas, pois testemunhamos isso acontecendo várias vezes: parece haver um boicote coletivo para impedi-los de serem conhecidos/reconhecidos no Brasil. Não se trata de uma ação coordenada, como se fosse um grande plano malévolo arquitetado por alguém. São na verdade, vários fatores oriundos do comportamento mesquinho dos brasileiros: medo da concorrência (onde alguns desenhistas iniciantes “queimam” desenhistas melhores que eles diante das editoras), inveja de outros desenhistas (ou de quem nem sabe desenhar) apenas porque... desenham bem! Mas o estrago principal é causado pelo velho hábito cultural/social que temos em desprezar e desvalorizar o que é feito aqui – o chamado “complexo de vira-lata” que gera comentários do tipo: "Ah, foi desenhado por brasileiro? Então não presta/não me interessa". Poderíamos comentar longamente esse “boicote branco“ que vitima nossos poucos mangákas, mas não é o assunto desta matéria.
Nos estendemos falando deste problema para que vocês entendam a situação de uma dupla de artistas brasileiros, que a despeito do seu talento comprovado, reconhecido e requisitado em vários países, são praticamente desconhecidos no Brasil. Essa matéria pretende ajudar a amenizar esta situação. E servirá também para os iniciantes aprenderem alguns macetes do que é ser um desenhista profissional numa terra tão ingrata e incapaz de reconhecer e respeitar os artistas que tem.
Vamos então conhecer um pouco este casal incrível, que usa um pitoresco nome artístico: Eudetenis
Trata-se de uma dupla formada pelo casal Paulo e Giovana Serafim. Além de casados, eles trabalham juntos ilustrando e desenhando quadrinhos/mangás há seis anos. Já prestaram serviços para empresas e editoras do Japão, EUA, Reino Unido, Dinamarca e atualmente para os Emirados Árabes – que tem sua própria ComicCon e apreciam muito mangás e animes.
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Página do mangá "Beast of Burden" publicado nos Emirados Arabes. O primeiro capítulo está disponível em inglês neste link |
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Autocaricatura da Gigi em seu estúdio de desenho |
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A bateria da Gigi |
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A Gigi. De costas. E só. |
Para os crentes que desenhar é moleza, que não é trabalho, mas uma “diversão remunerada”, um pouco de realidade para vocês: Gigi passa a semana desenhando ilustrações e mangás no mesmo ritmo e tempo de um escriturário. Ela trabalha tanto quanto em qualquer outro emprego remunerado. E nos fins de semana, ainda desenha uma média de 6 a 8 comissions/dia. Para quem não sabe o que é comission, aguarde matéria específica sobre essa forma de trabalho focado em “desenhos encomendados” tão desprezado no Brasil. Já o Paulo, além de cuidar da casa, do rango e dos computadores, é um negociante que sabe o quanto o trabalho de sua esposa vale. Exemplo: uma empresa norte-americana pediu orçamento para algumas ilustrações, e não aceitou o valor exigido por Paulo. Dois meses depois, esta mesma empresa voltou a contatar e desta vez aceitou o preço estabelecido, pois usou o serviço de um desenhista “mais barato” e o resultado foi um desastre! Eis uma boa lição de profissionalismo que todo desenhista deveria aprender. Se você não se valorizar, ninguém te valorizará! Peça sempre um preço justo por seu trabalho!
Mas afinal de onde surgiu a marca “Eudetenis”, que Paulo e Gigi usam em seus trabalhos? Segundo o Paulo, foi um nick de e-mail que ele criou num momento de pouca imaginação. Sentado diante do computador, decidindo qual nome usar no seu endereço de e-mail, sem ideias melhores ele olhou para baixo da mesa e viu que estava usando tênis – daí, “eudetenis@......” E quando ele e Gigi estavam decidindo o nome para o “estúdio”, nenhum dos dois achou um bom o bastante. Então o Paulo sugeriu: vamos usar o do e-mail, o “Eudetenis”. E assim foi. Atualmente, esse nome é conhecido e respeitado fora do Brasil e infelizmente, pouco por aqui. Mas quem sabe, não mude futuramente, com alguns projetos que o casal tem em mente...?
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Gigi em seu estúdio. Essa mesa digitalizadora é o sonho de qualquer desenhista... |
Por hora encerramos aqui, mas ainda há muito que falar sobre o Eudetenis, mas será em matérias futuras. Até lá, conheçam e acompanhem o trabalho desta dupla sensacional nos endereços abaixo:
Quadrinhos autorais
https://tapastic.com/EUDETENIS
Pixiv
http://www.pixiv.net/member.php?id=2933491
Livestream (assine e acompanhe a Gigi desenhando ao vivo, com direito a participação no chat com as centenas de fãs que ela tem ao redor do mundo)
https://picarto.tv/eudetenis
Site pessoal com tabela de preços (para comissions)
http://www.eudetenis.com/br/
Deviantart
http://comicamanager.deviantart.com/
Youtube com Speed Paints (desenhos sendo feitos com aceleração do vídeo):
https://www.youtube.com/channel/UCT4o2WKR2BwUG9WOUKBf68w
E para seu deleite, mais algumas das belas ilustrações que a Gigi faz:
Excelente!!! Brasileiro também entende de mangá, não só de futebol!!!
ResponderExcluirOi cara eu produzo um mangá. Eu tive uma grande ideia e comecei a criar meu mangá mais eu não consigo trabalhar como eu faço pra ganhar dinheiro com meus desenhos ainda estudando
ResponderExcluirMuito bom
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