Na matéria sobre a ilustração de capa da revista
Jinkou Chinou Gakkai que foi alvo dos protestos das feministas japonesas, fizemos gol contra ao dizer que era uma “tempestade em copo d’água”. Vamos corrigir este equívoco.
Uma grande amiga do Sérgio Peixoto, nosso editor-chefe, lhe passou uma merecida bronca via Facebook pelo posicionamento machista, ainda que involuntário. Parte do texto a seguir, que explica como o preconceito contra as mulheres pode ocorrer de maneira imperceptível, foi tirado da conversa que ela teve com o Peixoto no Facebook. Como ela não deseja seu nome publicado aqui, iremos respeitar isso, mas agradecemos por apontar a mancada e nos ter colocado no rumo certo.
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Capa da revista Jinkou Chinou Gakkai (Faculdade de Inteligência Artificial) que gerou indignação e protesto das feministas japonesas. |
No dia 12 de março de 2014, publicamos uma matéria
neste link, onde nos posicionamos contra os protestos das feministas japonesas por causa da imagem na capa da revista
Jinkou Chinou Gakkai, onde aparece uma robô-empregada lendo um livro. Achamos que era exagero, coisa de feministas extremistas, etc. Ponto negativo para nós! A imagem é sim preconceituosa. Não havia a necessidade de a ilustração ser com uma figura feminina segurando vassoura. Poderia ser um mordomo segurando bandeja, poderia ser um Pokémon, um dinossauro, um Gundam de avental! Mas porque justamente uma garota? Porque é “bonitinho”, esta é a razão! As feministas não estão exagerando quando criticam imagens que afirmam uma ideia ultrapassada sobre mulheres, porque as pessoas não percebem quando estão sendo tacanhas ou machistas.
Vamos dar um exemplo: Sabe aquele monte de palavras que supostamente se configuram como elogios femininos tipo beleza, delicadeza, suavidade, sensibilidade, emoção, etc? Bom, experimente usá-los para elogiar um homem e veja se ele vai ficar contente! As palavras em si são lindas e expressam coisas bonitas, mas são discriminatórias e usadas dessa forma. É como se os homens tivessem arrumado um modo de não dividir – e não dividem mesmo – os elogios que realmente importam com as mulheres. Essa é a cara do preconceito. A violência é uma deturpação, uma anomalia, um crime. Para crimes existe cadeia, para todo o resto, resistência e educação.
Uma coisa é uma revista cheia de desenhos hentais. Outra, completamente diferente, é esta revista sobre inteligência artificial – feita para uma elite intelectual, supostamente séria – e talvez por isso tenha chamado a atenção da imprensa quando as feministas reclamaram. No contexto e temática da revista não havia, realmente, necessidade de se colocar uma androide-empregada na capa. Com isso, de forma inconsciente, se passou de fato uma imagem machista e preconceituosa. É muito provável que os editores nem pensaram nisso ao aprovarem a ilustração, mas aí entra o que escrevemos acima, sobre os homens não dividirem os elogios que realmente importam com as mulheres, consciente ou inconscientemente. E na maioria das vezes, nem as mulheres percebem. E o preconceito continua subsistindo.
Não sabemos em detalhes como é a luta das feministas num país como o Japão, que nem reconhece os direitos humanos, e pouco sabemos do que elas andam fazendo no tocante às revistas que exploram a imagem feminina, mas não deve ser muito diferente daqui. Para cada voz contra a exploração da imagem da mulher, temos mais de 10 milhões de votos pra escolher a garota Globeleza...
É fácil não perceber o preconceito, especialmente quando não se acredita nele, como foi o nosso caso, achando que era pura implicância com algo aparentemente desimportante. A todas que se sentiram ofendidas com esta imagem e principalmente com nosso posicionamento equivocado, nossas sinceras desculpas.