Uma revista japonesa sobre Inteligência Artificial foi duramente atacada pelas feministas por se atrever a usar em sua capa, desenho com uma empregada doméstica androide
A edição de janeiro/2014 da revista
Jinkou Chinou Gakkai (Faculdade de Inteligência Artificial) da
Sociedade Japonesa para a Inteligência Artificial - site oficial em inglês
neste link - teve como capa, ilustração em estilo anime de uma empregada androide segurando vassoura e lendo um livro. Foi o que bastou para começarem protestos aleatórios de feministas japonesas pelo Twitter que viram a capa como "discriminação contra mulheres" e "totalmente assustadora". Na interpretação delas, os homens por trás da publicação queriam sugerir ao publicar a imagem da androide segurando uma vassoura, que o lugar da mulher é em casa.
A coisa virou uma bola de neve quando a imprensa deu atenção a estes poucos protestos e soltaram matérias sobre o assunto. Em pouco tempo, a Sociedade para Inteligência Artificial tinha uma tempestade em suas mãos. Para não alimentar ainda mais o troll, ela divulgou um pedido de desculpas
neste link ainda em janeiro: "pedimos desculpas profundamente por causar desconforto"... "de nenhuma maneira a intenção foi sugerir que as mulheres devem estar fazendo limpeza". E complementa explicando que a ilustração foi desenvolvida usando a técnica de representação chamada "personificação", ao misturar a ideia da inteligência artificial com a vida cotidiana.
A revista em si é uma publicação obscura com distribuição limitada, tiragem de alguns milhares de exemplares e, como o nome diz, trata de estudos sérios sobre o desenvolvimento de inteligência artificial. Mas depois deste “escândalo”, uma segunda edição da revista com a capa polêmica foi impressa, e ela se tornou inesperadamente conhecida entre o meio otaku.
A resposta verdadeira da Sociedade a toda essa tempestade num copo de água veio na capa da edição de março/2014, que mostra a visão da androide a partir de seus olhos, olhando para um menino e ao mesmo tempo, exibe qual era o texto no livro (em alemão) que ela estava lendo:
"Phänomenologie des Geistes" (
A Fenomenologia do Espírito, publicada em 1807), uma das principais obras do filósofo alemão
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (mais informações sobre ele
neste link). Esta capa-resposta recebeu aclamação imediata por sua sagacidade, e até mesmo alguns pedidos para uma adaptação em anime já foram feitos.
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Capa-resposta publicada na edição de março |
As feministas japonesas, como quaisquer outras no mundo, apesar de lutarem com razão pela igualdade de direitos e respeito em sociedades machistas, eventualmente cometem exageros ridículos, como neste caso. Outros alvos mais constantes (e justificados) de seus protestos são os animes, mangás e videogames eróticos, por conta das histórias com empregadas domésticas ou escriturárias tendo que fazer sexo forçado com seus chefes. Curiosamente estas histórias onde mulheres são subjugadas e estupradas, muito mais ofensivas a qualquer mulher que a inocente capa da Jinkou Chinou Gakkai, nunca atraiu tanto a atenção geral da imprensa como aconteceu neste começo de ano e continuam sendo produzidas aos milhares todos os anos. Em resumo, foi puro sensacionalismo, que acabou apenas criado uma situação constrangedora para uma revista focada em estudos científicos, enquanto os verdadeiros vilões continuam soltos e atuantes em revistas e videogames eróticos.
Como já disse em outras matérias neste Blog, algo está muito errado no comportamento da Sociedade Japonesa, e é preciso corrigir isso antes que piore.