11 de fev. de 2013

Homem Aranha Mangá: 43 anos no Japão, 15 Anos no Brasil



A quinze anos atrás em 1998, durante a crista da onda do sucesso de Cavaleiros do Zodíaco, a Editora Mythos colocava nas bancas o mangá do Homem Aranha. Era uma época frenética que vivi de perto, com muitas as editoras tentando emular a Herói ou Animax, enquanto outras correram atrás de qualquer "história em quadrinho" que tivesse olhos grandes para faturar em cima. Afinal, né, para que pensar e ter um trabalhão para ser original quando é bem mais fácil aproveitar da modinha do momento?
Ninguém estava interessado em "divulgar o mangá" no Brasil - só queriam ganhar grana de qualquer jeito com a temática Cavaleiros do Zodíaco. Num levantamento incompleto que fiz desta época, relacionei mais de QUARENTA "revistas informativas" diferentes lançadas que 1995 até 2003. Se um desenho animado sobre jumentos tivesse feito sucesso no lugar de Cavaleiros, todas as editoras publicariam revistas com jumentos na capa e dentro, matérias chulas...


Como esta série, publicada no Japão entre janeiro de 1970 e setembro de 1971 na revista Shounen Magazine Mensal chegou ao conhecimento de um editor no Brasil é um mistério para mim. Mas como é um produto da franquia Homem Aranha disponível no catálogo da Marvel dos EUA, talvez tenha sido assim que souberam da sua existência e a publicaram, achando que venderia muito. Talvez tenha vendido razoavelmente, já que publicaram 4 edições por aqui, cada uma com 120 páginas em média. Detalhe: tudo devidamente invertido, para facilitar a leitura pelos ocidentais, e com as cenas mais "fortes" sumariamente limadas. Deve ter vindo assim da Marvel.


O curioso é como a versão mangática do herói aracnídeo surgiu: em 1970 a Marvel já era uma editora de sucesso nos EUA, e Stan Lee enviou um funcionário da casa - Gene Pelc - ao Japão, para licenciar os quadrinhos da Marvel por lá. A Editora Shueisha se interessou e publicou algumas séries da Marvel no Japão, apenas traduzidas. Foi um fracasso. Os publico nipônico não assimilou o estilo de quadrinhos americano. Mas como sabemos, japoneses não desistem facilmente. Foi então que a Shueisha decidiu criar sua própria versão do home Aranha adaptada para o Mangá! Contrato de licenciamento fechado, foi chamado para cuidar do desenho e roteiro o (na época com 26 anos) novato Ryoichi Ikegami, hoje conhecido por trabalhos espetaculares como Crying Freeman, Sactuary e Mai the Psychic Girl. Numa entrevista, Ikegami disse que provavelmente foi contratado para desenhar o mangá do Homem Aranha por causa de seu traço realístico, similar aos desenhistas norte-americanos da época. O roteiro ficou por conta de Kazumasa Hiraido meio da série em diante.

A história no começo segue mazomenos o mesmo ritmo do Homem Aranha original, mas com a narrativa gráfica do mangá, com muitas porradas e mortes. Peter Parker foi substituído por um estudante colegial-padrão-e-nerd chamado Yu Komori, que ao fazer experimentos com radiação no laboratório de sua escola, acaba sendo picado por uma aranha radiativa, recebendo super-poderes. E sem o dramalhão do tio ser morto por um bandido que ele não quis prender, Yu se torna super herói visando faturar uma grana para ajudar a garota que gosta, prendendo o bandido Electro. Para não ser identificado, cria o disfarce de Homem Aranha. A garota em questão está no lugar de Gwen Stacy, substituida por Rumiko Shiraishi, que no mangá é irmã do Electro e amiga-quase-namorada do Yu. Mas quando seu irmão é morto pelo Homem Aranha, ela passa a odiá-lo. É, ele continua um herói azarado...



Com muito mais ação, violência, e mortes, a versão nipônica do herói aracnídeo enfrenta vários de seus inimigos clássicos da primeira fase: Electro, Lagarto, Caguru, Mysterio e outros, incluindo uma garota que controla o clima, como se fosse uma versão japonesa da mutante Tempestade, vestindo kimono preto. A qualidade da série, no geral? Fraca, muito fraca, para nossos padrões atuais. Mas nos anos 1970, teve razoável sucesso por conta de ter apresentado um Homem Aranha muito mais sofrido, ferrado e angustiado, durando um ano e meio e rendendo 8 volumes encadernados ou 5 volumes na "versão de colecionador" (umas 1.600 páginas). Vira e mexe ela é republicada muito mais por ter sido desenhado pelo Ikegami do que pelo valor da história, injustamente desprezada. Vale como item de colecionador "cult", por ser a primeira versão mangá do Homem Aranha, e por apresentá-lo muito mais violento e traumático que sua versão original. Se procurar com afinco em sebos bem providos, talvez você encontre alguns exemplares.

 

Um comentário:

  1. Eu tenho a segunda edição.
    De fato o roteiro não é grande coisa mas o traço do Ikegami-semsei já vale. A história é mais interessante pra mim, que a original, não sei dizer o motivo, mas enfim, não me arrependo da compra que fiz a anos atrás. Tenho também o mangá de X-men, que gosto muito deste mesmo período.

    Takamura do blog: Tatsu Estúdio

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