21 de dez. de 2012

Megaman 01

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Arte de Capa: Paulo "Paulada" Henrique
Páginas de Quadrinhos: Márcia Harumi Saito Pereira
Roteiro: José Roberto Pereira
Editor-chefe: Sérgio Peixoto Silva

Esta é a primeira das 16 edições do Megaman, que foram publicadas entre 1996 e 1999 pela editora Magnum. Há muita história para contar, então vamos por partes:

- Vendendo a Idéia: na época, já tinhamos contato com a Character, empresa que no Brasil representava a CAPCOM e todos os seus videogames, arcades do Megaman incluso. Com o lançamento do desenho animado do Megaman na TV, seria uma oportunidade de ouro caso conseguissemos publicar uma revista do personagem, emulando o mangá japonês. Como eu e o falecido José Roberto já estávamos publicando a Animax com relativo sucesso, apresentamos a idéia para a direção da Editora Magnum. Para convence-los a lançar a revista, nós trabalhamos de graça, sem receber nada nas dez ou doze primeiras edições. Se não tivessemos feito esta proposta, a Magnum não teria aceitado o projeto.

- Negociacão: Uma vez aprovada a idéia pela editora, atuamos como intermediadores da negociação entre a Magnum e a Character, que em um mês já estavam fechando um contrato de licenciamento. Estivemos inclusive presentes na festa de lançamento da franquia do Megaman promovida pela Character, que foi nossa segunda participação num lançamento de uma série japonesa no Brasil (a primeira foi do filme e mangá do Akira, no começo da década de 1990, que já mostrei neste link e também neste outro link). Infelizmente, deste evento não tenho fotos.

- Produção: com o licenciamento em mãos, era hora de começar a trabalhar. Como eu já estava bastante ocupado com a Animax, deixei o desenvolvimento do roteiro totalmente aos cuidados de José Roberto. Na época, eu o considerava meu melhor amigo e tinha muito respeito por sua criatividade como escritor. Acreditava que a história do Megaman estaria em boas mãos - eu era bem mais inocente então. Mas tinhamos outro problema: selecionar desenhistas. Como não havia pagamento, não teriamos como convidar quadrinhistas profissionais - e nem era essa nossa intenção. Desde o começo queriamos que o Megaman fosse desenhado por brasileiros e no estilo mangá! E sobre isso, acrescento uma informação importantíssima: a Character nos ofereceu o mangá original do Megaman, mas nós dispensamos para fazê-lo totalmente no Brasil! Sem ter como pagar os desenhistas, a solução foi partir para o voluntariado. Usamos a Animax para divulgar convidando quem quisesse participar de uma edição do Megaman com ou sem experiência, qualquer idade ou sexo, desde que desenhasse bem e similar ao mangá! Para participar, o candidato deveria enviar 6 páginas de quadrinhos sendo 2 a lápis, duas arte-finalizadas e duas coloridas. O "pagamento" seria a publicação de uma edição feita pelo desenhista selecionado, com seu nome em destaque para fins de divulgação e portfólio. O resultado foi muito maior do que esperávamos: até o fim da revista, recebemos mais de 600 testes com 6 páginas cada, num total de 3.600 páginas desenhadas, fora ilustrações avulsas. E sim, eu examinei e avaliei pessoalmente cada uma destas páginas! A qualidade da maioria era sofrível, mas sempre havia uma pepita no meio do cascalho, por mais que eu tivesse de peneirar.

- Roteiro: Como o falecido José Roberto deixou claro no editorial do megaman 1, "O roteiro é assim: e peguei a história da TV e a ignorei, pois ela é muito ruim!" Apesar de discordar desta colocação, deixei esse comentário negativo ser publicado. Mas a verdade é que nem eu e nem o José Roberto conheciamos muito sobre Megaman - nunca haviamos jogado nenhum dos videogames da série, éramos completamente ignorantes sobre o background dos personagens. Como eu só cuidaria da montagem da revista, e o José Roberto dos roteiros, nunca me preocupei em corrigir este problema - confiei totalmente em meu ex-sócio/amigo. O que ele fez, descobri mais tarde quando perguntei e ele mesmo me explicou, foi conversar com um leitor da Animax que era fã da série Megaman e pegar de ouvido algumas informações básicas, nada mais. E foi em cima destas poucas informações que o falecido desenvolveu seus roteiros.

- Como a Desenhista foi Selecionada: Por insistência do José Roberto foi Marcia Harumi, sua esposa, que desenhou a primeira edição. Apesar do nepotismo óbvio desta escolha, havia outro motivo - não tinhamos muitos desenhistas de mangá disponíveis na época, pois a divulgação mal havia começado! Além da Márcia, havia um grupo de desenhistas novatos que se reuniam com o grupo da ORCADE (o mais ativo clube de fãs de anime/mangá no Brasil, conto a história outro dia) que também convidei a fazer testes. Porém, por mais que os cobrasse durante nossas reuniões semanais, eles não entregaram teste algum. E assim, nenhum deles foi selecionado para o Megaman, por desinteresse ou pura preguiça deles mesmos. Anos mais tarde, soube que eles diziam que eu tinha a obrigação de convidá-los a desenhar sem teste algum! Para você ver que mesmo naquela época, muito desenhista novato "se achava" sem nunca ter publicado nada...

- Como Esta Edição foi Feita: Apesar das deficiências em seu traço, a Márcia se dedicou totalmente, desenhando 24 páginas e colorindo todas elas num computador já na época considerado ultrapassado - um PC 486DX-2 de 80MHZ, 32 MD de memória RAM e um HD de 1.2 GB de espaço! Como ela mesma explicou em seu blog neste link, "Quando aplicava o degradê, demorava uns 3 minutos para ele aplicar. Se eu errasse, travava a máquina." Todas as 24 páginas somavam 50 MB de arquivos em BMP. E para enviar as páginas prontas para o fotolito foi um parto: primeiro o José Roberto me entrega 37 disquetes de 1.44 mb cada com as páginas zipadas em um único arquivo! Naquela época (1996), gravadores de CD ainda eram raros, não havia pendrives e o unico sistema de tranporte de dados era o ZIP Drive (detalhes neste link). É claro que ao tentar descompactar este arquivo monstruoso, ele "deu pau"! A solução foi tirar o HD do PC e levar para a empresa que faria o fotolito. Foi uma das pitorescas - mas não a ultima - das peripécias que passamos nas primeiras edições do Megaman. Pois na época, a nossa experiencia em produzir quadrinhos/mangás era praticamente zero! 

- Ultimas considerações: Cada edição do Megaman era uma aventura e uma lição, pois faziamos tudo com a cara e a coragem, sem ninguém para nos dizer o que estava certo ou errado. A qualidade das edições do Megaman hoje em dia são criticadas por sua baixa qualidade e amadorismo - sou o primeiro a admiti-las. Porem, era o melhor que na época  podíamos fazer, levando em conta nossa experiência praticamente nula. E assim, na tentativa-erro-acerto, fizemos 16 edições da primeira revista de mangá criada totalmente no Brasil, usando um personagem famoso mundialmente. E isso numa época em que editora alguma se interessava em publicar mangá por aqui. Até hoje, nenhuma outra revista repetiu o que foi feito no Megaman, de abrir para qualquer um que acredite ter talento e capacidade, a chande de desenhar uma edição inteira. Por isso ela é pioneira duas vezes - por ter sido a primeira série de mangá nacional a durar mais de um ano nas bancas, e por ter apresentado uma nova geração de desenhistas brasileiros de mangá. E como sempre digo e continuarei repetindo, não me arrependendo das pessoas que selecionei, pois a maioria delas se tornaram grandes desenhistas de quadrinhos e ilustradores profissionais: Daniel HDR (MM2 e 16), Paulo "Paulada" Henrique (MM3), Érica Awano (MM4), Lydia Megumi (MM5), Fabio Paulino (MM6 e 14), Sidney G. Lima (MM8), André Luis - o ALF (MM9), Eduardo Francisco (MM12) e Rogério Hanata (MM11 e 13) são alguns dos artistas que tiveram sua primeira chance com o Megaman e a souberam aproveitar para alavancar suas carreiras. Portanto, quando sou acusado de ter "explorado" desenhistas iniciantes, eu respondo: "que outra chance eles teriam para mostrar seu talento além da oportunidade que oferecemos no Megaman"? E até hoje, nenhum destes desenhistas me acusou de ter sido explorado - todos que ainda tenho contato são gratos por terem participado da primeira grande aventura editorial mangática do Brasil - a revista do MEGAMAN!

Aguardem, que tenho mais para contar - afinal, ainda faltam mais 15 edições para postar...

3 comentários:

  1. E ae meu caro Peixoto, quando vem mais historias? Fiquei curioso, rsrs!!! Nao cheguei a ler nenhum, somente vi as suas materias na Animax e sempre tive curiosidade de lê-los, principalmente o 3 da Erica contanto a estoria da Roll!!!

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  2. Megaman fazia minha alegria(e de mais uns 2 ou 3 amigos) na época em que era lançada. Ainda hoje tenho algumas edições guardadas. Tempos em que a internet não nos fornecia todas as facilidades de hoje em dia e que conseguir algum material relacionado a animes/mangás era quase impossível, Animax, Megaman e Hyper Comics "salvavam vidas".

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  3. Era sensacional as edições tive contado com estes mangás acredito que em 1998 ou 1999 e fiquei louco quando descobri que era totalmente brasileira a revista. Depois anos tarde tive a oportunidade de apertar a mão de Sergio Peixoto duas vezes no evento Anime Expo que acontecia no teatro Maria de la Costa, uma destas ocasiões fui sorteado e o Peixoto me entregou uma camiseta do anime Ranma 1/2. Peixoto por favor faça mais Megaman Nacional!!! Nem que faça um projeto de financiamento como o Kenji Inafune fez com o Mighty No9.

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